sexta-feira, 18 de abril de 2008

O relato de Juca sobre sua aventura na floresta do Jambeiro ( continuação )

18:37 - Minha primeira reação foi olhar para José. Com certeza esta espingarda nas mãos da empregada apontada para mim, faz parte da brincadeira não é? Mas eu sabia que não era. A espingarda não estava nos planos deles, assim como eu também não estava. Eu a trouxera e aquilo definitivamente não era uma brincadeira. Minhas suspeitas se confirmaram ao ver o semblante de José.
Ele estava boquiaberto.
A tranquilidade que estava se apoderando nos últimos instantes, quando finalmente decidira me contar toda a história agora se fôra. O suor empapava sua camisa e um leve tremor nervoso fazia suas têmporas saltitarem alegremente.Contudo, José estava controlado e eu torcia para que ele desse cabo da situação. Pelo contrário, algo me dizia que minha vida iria durar muito, muito pouco.

- Beatriz, o que você está fazendo? - falou o jardineiro em voz baixa, aproximando-se um pouco da mulher.

- Eu que devia lhe perguntar isso, José! - guinchou raivosamente Beatriz - Era segredo, lembra? Quando eu achei este maldito mapa e nós traçamos esse maldito plano, a minha única exigência foi que ninguem soubesse de forma alguma,não foi? Então no primeiro imprevisto você conta tudo?

- Mas minha querida, não foi um imprevisto qualquer, é o Juca - falou calmamente José, tentando controlar o nervosismo. A arma agora estava apontado na direção e algo na feição doentia de Beatriz dizia que ela não estava de brincadeira - eu tive que contar a ele, o que poderiamos fazer?

- O que? - gritou Beatriz - simplesmente poderíamos amarra-lo e deixa-lo aqui para os pais acharem. Quando descobrissem o garoto nós já estariamos longe!

- Ele podia morrer - disse baixinho o jardineiro - nós...

- QUE MORRESSE ENTÃO! - berrou Beatriz, perdendo de vez a pouca compostura que tinha - Desse jeito, ele aprenderia a nunca mais se intrometer em assunto alheio - concluiu. A arma agora tremia freneticamente em sua mão. O dedo médio esticado na direção do gatilho balançava perigosamente. Eu percebi esse perigo.José também.

- Mas Beatriz...tinhamos combinado que ninguem ia se machucar com isso - falou o jardineiro em tom de súplica - e é o Juca, não quero fazer mal a ele.

Senti uma imensa gratidão pelo jardineiro e pensei que, se pudesse, entregaria todo o tesouro para ele de boa vontade. Ele merecia.

- Eu também gosto do garoto, José - disse Beatriz, a voz vacilando um pouco - mas nós iremos ser presos. Temos que fazer alguma coi...

- Eu não denunciarei ninguém - disse falando pela primeira vez, fiquei feliz ao constatar que minha voz não estava tremendo - eu promet...

- NÃO SE META! - gritou mais alto do que nunca, Beatriz, virando a arma na minha direção. José que, pelo visto, não se descuidara e fôra sistemático a todo momento, voou para cima dela no intuito de desarma-la a todo o custo. Por pouco conseguiu, o cano da arma se ergueu em direção ao teto esquisito do interior do Jambeiro e , por um momento, senti um alívio.
Então um disparo ecoou no interior da árvore.
Inicialmente pensei que havia ficado surdo e que a bala teria atingido minha orelha, mas aos poucos minha audição foi voltando e pude focar de novo o casal. O tiro havia sido para cima e ninguem tinha se ferido ainda. A arma permanecia comprimida entre os dois, sendo que agora José parecia estar começando a dominar a situação. A arma já virava para beatriz quando outro tiro quebrou a tensão. Sendo que dessa vez ele não saiu da espingarda. Veio de fora. E Juca viu.
Silêncio.
Mais uma vez, surdez.
E Beatriz caiu.

Um filete de sangue escorreu pelo chão empoeirado do interior do tronco quando Beatriz caiu em um perfeito decúbito frontal emitindo uma pancada oca na queda. O tiro acertara suas costas.
José gritou desesperado, largou a arma e correu para a entrada do tronco. Parou quase que imediatamente ao ver o que o esperava do lado de fora. Quatro policiais fardados estavam prostrados ali fora, de armas em punho e apontavam para ele. Mais atrás , escorados em uma Aroeira, estavam os pais de Juca. Ambos com roupas de trabalho e com os rostos muito abatidos. A mãe de Juca, provavelmente devia ter chorado muito. Haviam manchas profundas e escuras logo abaixo de seus olhos e ela segurava um lenço na mão direita.

- Mão na cabeça, senhor - gritou um policial gorducho mais próximo do tronco - você esta preso.

Merecido. Pensou o jardineiro ao ser algemado e levado para fora da floresta onde provavelmente uma ou duas viaturas o aguardavam para leva-lo a um local onde ele se tornaria uma pessoa muito pior do que, de fato, era.
Para mim tudo não passou de um borrão etéreo e não dei atenção aos gritos da minha mãe ao me abraçar, nem às perguntas dos policiais para mim, muito menos ao fato de que a excelente cozinheira Beatriz havia morrido na minha frente.Estava alheio a tudo isso. Só houve um momento ao qual eu me recordo nitidamente dessa sucessão de fatos ocorridos das 19:00 às 21:00 desta noite trágica. Foi quando um dos policias - baixinho, meio atarracado e que exalava um forte odor de drops de menta - perguntou se o jardineiro, José, era culpado de tudo.

Ele salvou a minha vida, eu respondi.


Sábado. 23: 25 - Juca terminou o seu relato com a frase "Ele salvou a minha vida, eu respondi."

O relato era composto de uma tristeza incomensurável, porém Juca não achava que o fim havia chegado. Ele queria salvar José. Tirá-lo da prisão. Descobrira na sexta feira através dos seus pais que no caso de José, poderia ser paga uma fiança, mas que - obviamente - aquele cão traidor deveria apodrecer na cadeia para sempre, explicou enfaticamente o pai de Juca no jantar.
Juca ia salva-lo. E já imaginava como.

No Domingo de manhã, Juca acordou bem cedo e foi na floresta. Todo o mistério e o medo que ele sentia daquela floresta se perdera. Até a real idade de Juca se perdera nos últimos dias. Ele julgava ter envelhecido uns 5 anos. Após sete minutos de caminhada, passando facilmente por entroncamentos, raízes, galhos e espalhando as folhas agilmente com os pés, Juca chegou na clareira onde ficava o Salgueiro. Até o Sábado pela manhã ela estava interditada e apenas a polícia tinha acesso. Mas como era um caso sem muitos mistérios a se resolver, a polícia logo abandonou o local. O serviço do Dever precisava ser exercido em outros locais. Apressadamente, Juca irrompeu pela entrada - agora aberta - do Jambeiro e afastou com dificuldade o pedregulho que ficava do lado direito do interior do tronco. Alí estava. A passagem cavada por José para o local indicado no mapa. O mapa sumira. Muito provavelmente José levara consigo, mas Juca não precisava dele. Algo o dizia que ele apenas precisava seguir o túnel cavado por José.
E Juca seguiu. Entrou no túnel - que era um pouco apertado para um adulto, mas perfeitamente adequado como esconderijo para uma criança - e foi adentrando em seu espaço cada vez, passando por curvas, por vezes subindo ou descendo, as vezes ouvindo o cantarolar dos pássaros, que o fazia pensar que estava proximo da superficie e muitas vezes sem ouvir absolutamente nada. Apenas a sua ofegante respiração e suas passadas pelo túnel. Após uns vinte minutos de busca pelo túnel,ele terminou. Algo que parecia uma pequena caverna, se estendia no final e no centro dela, havia uma caixa de madeira.
Madeira do próprio Jambeiro, pensou Juca.
Sem pensar duas vezes Juca apanhou a caixa e voltou pelo caminho do túnel. Abriria quando voltasse ao seu quarto. Já na floresta Juca veio pensando que talvez alí não estivesse contido dinheiro suficiente para libertar José, afinal de contas, a caixa era bem pequena. Tinha uns trinta centrimentos de largura e uns 10 de altura. E não pesava nada. Se não tiver o suficiente, o que eu faço?
Juca subiu as escadas de sua casa e se trancou no quarto. Sua camisa estava empoeirada e o suor molhava-lhe as faces. Mas isso não o preocupava. A ansiedade era grande demais e ele não podia esperar mais nenhum minuto.

E foi contando até três que Juca abriu a caixa.

Foi tomado de um susto imediato. Seguido de um pavor. Não havia tesouro ao contrário, era uma carta. Uma carta antiga.Muito antiga.
Não me resta mais nada, se não ler esta inusitada carta. Pensou Juca, frustrado com sua descoberta.

Mas ao ler as primeiras frase, sua frustração passou e sua ansiedade voltou tão rápido que lhe deu um tontura. Sem acreditar, olhou para o papel novamente e leu:

Eu sei o que você deseja. Sei tudo o que você deseja.
Eu te darei o que você deseja. Tudo o que você deseja.
A partir de hoje.

E a seguir havia uma carta. Uma longa carta.

Então, vamos lá - disse Juca, e começou a ler. (continua)

3 comentários:

Paladyno disse...

[^_^] Queria te passar um MEME que recebi. Dá uma olhada pois eu te homenageei.

Repassando o MEME

Amana Martins disse...

pq tem q ser taaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaao grande hein!?!?
mas eu vou tomar coragem p/ ler tá!!!!

u n h a n u a disse...

Poxa,levei quase quize minutos pra ler,que Deus benze teus dedos e cabeça,vai ter coisa pra escrever tanto assim lá no pé de jequitibá. --' Atualiza isso,tu faz melhor. E cuidado com as espingardas...
ah e uma ultima coisa.
Acabei de escrever sobre Quincas Borba,aí agora por acaso encontro teu blog e advinha o titulo?
medo de tu*


o///