sexta-feira, 28 de março de 2008

O Caju e a Castanha

Existia no quintal da casa de meus avós um grande cajueiro. E como era grande! Mais que grande, era imenso! Suas folhas eram verdes e amarelas, eu nunca sabia ao certo quais eram verdes e quais eram amarelas. Elas pareciam sempre mudar de lugar. Como era estranho! Mas era uma estranheza bela. Era um belo, imenso e colorido cajueiro.

O cajueiro do quintal do vovô parecia ser o único no mundo que nasciam cajus todos os dias. Era também muito velho e, não sei se pelo tamanho, mas eu sempre associava o cajueiro a um velho sábio. E muito experiente.

Os Cajus que caiam do cajueiro eram muito orgulhosos de si. Se sentiam extremamente imponentes pelo fato de serem “daquele” cajueiro. Assim também eram as Castanhas. Todas essas atitudes "egocêntricas" e "pretensiosas" vinda das frutas tinham que causar algum conflito, um dia.

E não foi diferente.

Um certo dia pela manhã, entre a algazarra de Cajus recém nascidos que olhavam abismados o mundo novo em que estavam e comentavam aos berros com os colegas mais próximos, se sobressaíam duas vozes. Eram um Caju e sua respectiva Castanha, que discutiam em alto e bom som, roubando a cena perante aquele milagre do nascimento que ocorria no cajueiro.

-Você não entende... – argumentava a Castanha.

-Nem quero entender! – empertigava-se o Caju, falando cada vez mais alto – Onde já se viu, vocês, meras Castanhas, serem mais importantes que nós. Que piada! – Finalizou, arrancando risos dos Cajus mais velhos.

-Para seu governo, somos mais importantes sim! A fruta somos nós: as Castanhas.

-E que diferença faz? Na prática, nós somos as frutas. Vocês são extremamente desprezadas e... Ai! – o Caju gritou ao ser interrompido por uma mão que o arrancara de um dos galhos.

A pessoa que arrancou o Caju, desceu vagarosamente do pé, arrancando alguns outros Cajus pelo caminho e, ao chegar lá embaixo, retirou a Castanha do Caju e arremessou-o ao chão levando consigo apenas a Castanha.

-Extremamente desprezada, não é Senhor Caju? – gritou de longe a Castanha, enquanto o homem que a levou preparava uma pequena fogueira próxima ao cajueiro.

-Morra queimada sua debilóide!-praguejou carrancudo, o Caju.

Nesse momento, uma criança – provavelmente eu mesmo na flor da idade – pegou o caju e começou a chupá-lo com uma imensa vontade.

-E você morra seco, caju de uma figa! – respondeu a castanha, enquanto o fogo era atiçado em sua direção.

O Caju e a Castanha foram morrendo pouco a pouco, mas continuaram se insultando até não terem mais forças para prosseguir com tal ato.

No mesmo quintal, o grande cajueiro observava toda a cena com uma triste, porém reflexiva, expressão ao longo do seu tronco.

-Crianças... – comentou ele finalmente.

Um comentário:

AMANA MEDEIROS disse...

Crianças...

ops! Criança...

;)