domingo, 23 de março de 2008

O Relato de Juca sobre sua aventura na floresta do Jambeiro (continuação)

17: 45 - "Clic" - fez a arma quando puxei o gatilho. Desesperei-me ao ver que a arma engasgara e não havia expelido bala nenhuma. Tomado pelo medo, pisei num galho demasiado fraco e , antes mesmo de ver o monstro apontando e gritando em minha direção, cai do abaceteiro indo parar no chão fofo e repleto de folhas que amorteceram a queda.
- Pegue-o e traga aqui - sibilou uma voz familiar vinda do interior do tronco. Eu não conseguia ve-lo, pois as últimas nesgas de sol já haviam desaparecido, dando lugar a uma tenebrosa escuridão.
"Meus pais em breve perceberão a minha demora e então as coisas irão piorar.Ou não", pensava enquanto o "monstro" me carregava com dificuldade, indo em direção ao grosso tronco do Jambeiro.
- Muito bem - disse mais uma vez a voz vinda de dentro do tronco, quando o "monstro" me colocou na entrada - muito bem feita, por sinal - da árvore - Agora, volte a sua função - ordenou.
O monstro retirou-se sem dizer nada e foi fazer algo parecido com uma "vigília" em volta do tronco.
- Vire-se rapaz - sussurou a voz ao meu ouvido e eu não precisei pensar duas vezes antes de saber quem era.
Quando eu me virei, lá estava José, o jardineiro, com uma pá em uma das mãos e um papel velho na outra, olhando para mim com expressão que misturava furia e apreensão:

- O que você está fazendo aqui? - perguntou o jardineiro olhando para mim que fitava o chão.
- Eu que pergunto, o que você está fazendo aqui! - disse erguendo a cabeça de modo à fitar o velho. Não era a hora de ficar com medo.
- Não é da sua conta! - disse ele olhando ao redor do interior do tronco do Jambeiro onde estavam - definitivamente, não deveria ser da sua conta.
- Mas...mas...você deveria estar morto - disse sem saber o que falar - o monstro, ladrão, seja lá o que ele for, deveria ter te matado.
- Morto?Eu?Oras moleque, que disparate! Por que eu deveria estar morto?
Deu certo. A minha estratégia de atrasa-lo havia dado certo. Eu sabia que naquele momento os meus pais já estariam desesperados atrás de mim, afinal de contas sumira eu e a espingarda. Em breve eles chegariam na floresta.
- Então...faz uns dias que eu venho observando a movimentação do "monstro", e percebi que dias depois do seu aparecimento, você desapareceu. Supus que ele quisesse lhe tirar do caminho.
O jardineiro riu profusamente dos meus devaneios e fiquei assim por alguns minutos mas, como se algo lhe fizesse retomar a consciência, ele voltou a si e ficou sério novamente. Agachou-se com dificuldade e , sustentando-se com as pernas, disse baixinho:
- Olha garoto, eu não tenho nada contra você. Muito pelo contrário. E não queremos roubar sua casa, nem nada. Só que o que estamos fazendo é um pouco...arriscado e o fato de você estar aqui atrapalha e muito os nossos planos. - Eu percebi que ele estava nitidamente sem saber o que fazer devido a minha presença.Então, arrisquei:

- Já que não é nada de ruim nem comigo nem com a minha família, por que você não me diz o que é? Talvez eu possa pensar em uma "desculpa" para explicar o meu desaparecimento e livrar a pele de vocês.
O Jardineiro ficou estático. Seus olhos se fixaram em um canto obscuro do tronco, onde havia sido colocada uma pedra.O suor escorria de suas faces enrugadas e ele parecia pensar com muita cautela. Passado uns cinco minutos, ele falou:

- Muito bem então. Vou lhe contar toda a história. Há cerca de duas semanas, nós descobrimos um mapa, na verdade ela descobriu lá na sua casa e veio me mostrar. Era um mapa que indicava que existia um tesouro no jardim. Imagine Juca, montes de ouro no jardim de sua casa!A trilha indicada pelo mapa começava aqui no Jambeiro.Então bolamos o plano. Ela se vestiria de monstro e ficaria fazendo cobertura durante as noites enquanto eu trabalharia em achar a trilha do tesouro que o mapa mostrava. Não demorei muito para abrir uma entrada no Jambeiro e ver que dentro dele havia uma espécie de tunel. Logo ali - e apontou para o local onde se encontrava a pedra. Mas o tunel não estava completo, e nos ultimos dias eu venho cavando o restante do túnel que leva ao local indicado no mapa, que pelos meus calculos ficam bem próximos a sua casa. Nossa meta era acabar hoje, mas agora já não sei...
- E por que não nos dizer? - perguntei ansioso - toda esta história parecia ter saído de um livro, e eu lutava para acreditar que aquilo era impossível, mesmo sendo engolfado pela adrenalina que toda esta história trazia consigo.
- Oras Juca! O terreno é de vocês, logo, o tesouro é de vocês por direito. Mas veja bem, vocês são ricos, vivem bem, já eu e ela passamos por diversas dificuldades em nossas vidas e precisamos muito do tesouro.
- Quem é ela? - perguntei, já sabendo que ele se referia a pessoa que estava vestida de monstro lá fora.
- Sou eu, Juca querido - disse uma voz conhecida e ao olhar para o portal, eu e o jardineiro, vimos estupefatos Beatriz - a empregada de minha casa - nos dirigir à palavra apontando a espingarda do meu pai, que havia caido lá em meio as folhas, para nós.

- A brincadeira acabou- disse ela - Para os dois.

(continua)

2 comentários:

AMANA MEDEIROS disse...

seArhg!!!!
Parece novela!!!
Na hora mais emocionante, acaba!

Vixe Diego... Bem que tu podia me contar logo, né? ;)

Beijos!!!

Te amo!!

Zeck disse...

À empregada e má ou nãõ?
am desculpa eu mesquci eu
gostei